
Pode
ser pura coincidência, mas, ontem, os três principais jornais do País
deram manchetes idênticas sobre inflação; nesta sexta, dos três
jornalões, dois voltaram a se repetir, batendo na tecla dos preços às
vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária; a dúvida é: Dilma
irá se curvar à pressão organizada dos meios de comunicação, que parece
ter um comando central, ou recomendará cautela ao Banco Central, diante
dos sinais contraditórios da economia?; em editorial, Folha e Estado
pedem juro maior.
manchetes dos principais jornais do País, às
vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária? Pode ser que sim,
pode ser que não, mas o fato é que nunca houve tanta coincidência e
tanta convergência entre os jornalões. Ontem, quinta-feira, os três
principais jornais do Brasil, deram destaques idênticos ao mesmo tema,
conforme abaixo:
Inflação passa teto da meta e juro pode subir – O Globo
Inflação passa teto e cresce pressão por alta de juros – Estado de S. Paulo
Inflação estoura meta, e governo prevê juro maior – Folha de S. Paulo
Nesta sexta, de novo, novas repetições:
Alta dos preços já derruba vendas em supermercados – O Globo
Alta de alimentos derruba vendas de supermercados – Folha de S. Paulo
É por essas e outras e outras que os jornais tradicionais muitas
vezes são rotulados como um integrantes de um suposto PIG, Partido da
Imprensa Golpista, como se fizessem parte de um partido único. E é
também por isso que tantas vozes gritam por um processo de
democratização dos meios de comunicação.
No tocante à inflação, o movimento coordenado dos grandes jornais
pode provocar até um resultado inverso ao desejado. Como a presidente
Dilma é ciosa de sua autoridade, será desagradável elevar os juros, na
reunião do Copom dos dias 16 e 17, depois de uma pressão tão explícita
dos jornalões. Será que ela irá se curvar aos barões da imprensa?
Não bastasse isso, os sinais são bastante contraditórios. Já se sabe
que o estouro da meta em março será revertido em abril. Além disso, as
previsões de analistas convergem para uma taxa de 5,70% em 2013,
confortavelmente dentro da meta de 6,5%. E o ritmo de atividade
econômica, já fraco, recomendaria certa cautela. Até mesmo no sistema
financeiro não há consenso e um grande banco não vê razões para a alta
dos juros.
No dia 17, quando forem anunciados os resultados da reunião do Copom,
o Brasil saberá quem venceu a queda de braço: Dilma ou o exército coeso
que a enfrenta.
E se não bastassem as manchetes, o Estadão e a Folha publicaram ainda editoriais pedindo juros maiores. Leia abaixo:
Com 6,59% acumulados em 12 meses, a inflação superou o limite da
margem de tolerância e ficou quase 2,5 pontos acima da meta oficial, de
4,5%. Isso põe em xeque o Banco Central (BC) e torna muito difícil
evitar medidas mais duras na próxima reunião do Comitê de Política
Monetária (Copom), nos dias 16 e 17.
Na América do Sul, números de inflação piores que os brasileiros só
têm aparecido nas economias argentina e venezuelana, desorganizadas por
governos populistas, economicamente irresponsáveis e desastradamente
intervencionistas. Apesar de ruins, os dados de março, recém publicados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram
alguns preços com aumentos menores que nos meses anteriores. O ministro
da Fazenda, Guido Mantega, destacou esses detalhes positivos e tentou
mostrar algum otimismo.
A inflação, segundo ele, está em trajetória de redução. Apesar disso,
o ministro prometeu medidas para impedir a propagação da alta de
preços. O BC reafirmou em nota a mensagem distribuída pelo Copom depois
de sua última reunião, no mês passado. As autoridades monetárias
continuarão avaliando a evolução da economia e dos indicadores de preços
para decidir os próximos passos.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, reiterou várias vezes, nas
últimas semanas, o compromisso de agir contra uma inflação por ele
descrita como preocupante e resistente.
Esses adjetivos continuam perfeitamente adequados para descrever a
desordem dos preços. Os núcleos de inflação calculados pelos
especialistas diminuíram de fevereiro para março, acompanhando a redução
do índice cheio, de 0,6% para 0,47%. Vários preços aumentaram mais
devagar que nos meses anteriores e o índice de difusão, referente à
parcela de itens com preços aumentados, diminuiu de 72,3% para 69%. São
dados positivos, sem dúvida, mas é muito cedo para festejar a acomodação
das pressões inflacionárias e seria uma irresponsabilidade continuar
contemporizando, à espera de uma acomodação espontânea da inflação.
As medidas tomadas até agora pelo Executivo podem afetar
temporariamente alguns preços, mas nenhuma delas tem efeito
anti-inflacionário e são todas ineficientes como estímulos ao
investimento produtivo. Nenhuma das providências adotadas ou prometidas
até hoje serve para substituir uma política fiscal austera e um corajoso
aperto monetário. O aperto necessário será tanto mais duro quanto mais o
Copom tentar adiá-lo. Será tanto mais severo, também, quanto mais
prolongada for a farra fiscal, com generosa distribuição de benefícios
setoriais e nenhum esforço para conter os gastos públicos.
Embora os novos números da inflação indiquem certa melhora do quadro,
ainda estão longe de apontar um retorno ao equilíbrio. Um indicador de
difusão de 69% ainda mostra aumentos muito espalhados e uma vez desmente
a tese de uma inflação gerada por choques de oferta de alguns produtos.
A persistência da inflação dos serviços denuncia uma demanda muito
aquecida e os estímulos ao consumo apenas reforçam esse desajuste.
Além do mais, uma taxa mensal de inflação de 0,47%, como a de março, é
escandalosamente alta. Acumulada em 12 meses, uma alta mensal dessa
magnitude resultaria em 5,78%, uma inflação muito superior à da maior
parte dos países desenvolvidos e emergentes. Projetada para quatro
trimestres, a variação acumulada entre janeiro e março, de 1,94%,
produz: a assustadora inflação anual de 7,99%. Ninguém pode tolerar
taxas de inflação como as brasileiras e ao mesmo tempo reclamar do
desajuste cambial. A diferença entre as taxas de inflação de um país e
as de outros participantes do mercado concorrentes, clientes ou
fornecedores – é um dos fatores determinantes do câmbio real, como devem
ter aprendido os condutores da política econômica brasileira.
Finalmente, essas mesmas autoridades deveriam explicar claramente se a
meta de inflação é 4,5% ou qualquer valor entre 4,5% e 6,5%. Até agora, o
Executivo e o BC têm agido como se a meta incluísse toda a margem de
erro ou de tolerância, O resultado tem sido um desastre.
FOLHA DE SP – 12/04
Estouro da meta de inflação não indica ainda disparada de preços, mas
cenário exige cautela e recomposição da credibilidade do BC
O estouro da meta de inflação nos 12 meses encerrados em março não
significa que o comportamento dos preços seguirá nos próximos meses em
espiral ascendente.
Na realidade, o índice oficial de inflação, o IPCA, desacelerou no mês passado. Subiu 0,47%, contra 0,60% em fevereiro.
Analistas esperam que, após ter alcançado 6,59% no “ano” fechado em
março, a inflação decline e termine 2013 em torno de 5,5%. A meta
oficial é 4,5%, com dois pontos percentuais de tolerância.
Nem por isso se pode afirmar que o comportamento dos preços e as políticas adotadas para controlá-los inspirem confiança.
Ao contrário: tanto a dinâmica da economia quanto a atuação da equipe
econômica acarretam a persistência de riscos. Mesmo que refluam, os
índices continuarão em patamar alto, e isso num quadro de baixo
crescimento do PIB, leniência na gestão das contas públicas e pressão
política do Planalto sobre o Banco Central.
Este último aspecto, aliás, deverá levar o BC a aproveitar o
rompimento do teto da meta como senha para aumentar a taxa básica de
juros já na próxima reunião do Copom, na semana que vem.
Embora a autoridade monetária viesse indicando que preferiria
aguardar até maio para decidir, a inábil declaração “desenvolvimentista”
da presidente Dilma Rousseff na cúpula dos Brics, há duas semanas, na
África do Sul, como que constrange o BC a antecipar a alta dos juros. Na
ocasião, a mandatária declarou-se contrária a medidas
anti-inflacionárias que comprometessem o crescimento do PIB e atribuiu a
elevação dos preços a problemas localizados.
Ao falar como uma espécie de superministra da economia, Dilma atingiu
a credibilidade do Banco Central e causou turbulências no mercado –que
acompanha com um pé atrás as tentativas de influenciar preços por meio
de desonerações tributárias e outras medidas de curto prazo.
É verdade, não obstante, que a variação do IPCA no passado recente
foi impulsionada por sensível alta no grupo de alimentos e bebidas.
Adversidades climáticas e problemas com safras agrícolas provocaram a
elevação dos custos de itens com peso no indicador, como o arroz e o
feijão.
Isso não quer dizer que as dificuldades se resumam a esse aspecto, ou
que possam desaparecer com o simples passar do tempo. Os aumentos ainda
são disseminados, alcançando quase 70% dos preços, e o teto da meta já
teria sido rompido em 2012 não fossem os cortes localizados de impostos
decretados pelo governo.
Não há mais muita dúvida de que uma alta moderada da taxa básica de
juros desempenhará papel salutar nesse cenário econômico. Mesmo que
necessária, ela não será suficiente, contudo: restam por resolver as
questões estruturais, como gastos excessivos do Estado, gargalos de
infraestrutura e demais entraves ao investimento.
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